A Serra do Rola Moça e a Lenda da Moça que Rolou a Serra
Na coluna Na Garupa com o Tunico, crônicas sobre estradas, histórias e destinos mineiros. Uma visão pela alma e pelo coração do Tunico, sobre as experiências que se pode sentir sobre duas ou quatro rodas.

A reflexão de hoje nos leva à entrada de Brumadinho pela BR-040, partindo do Pátio Savassi, sentido Rio de Janeiro. São apenas 30,5 km que, em condições ideais, podem ser percorridos em cerca de 44 minutos.
Ao entrar no Jardim Canadá, à direita, no Posto Chefão, e passar pela Praça dos Quatro Elementos, chega-se à portaria do Parque Estadual da Serra do Rola Moça. O parque, aberto 24 horas e com porteiros atentos, é um verdadeiro portal para a natureza.
Poucos sabem que essa estrada, que começa na guarita do Parque e liga Casa Branca ao mundo, foi concebida e construída pela própria comunidade, sem nenhum recurso público. Nenhum centavo veio do município, estado ou União.
Foram cinco anos de esforços coletivos: moradores pagando carnês mensalmente, com recursos próprios, e visionários que lideraram a concretização desse sonho, como Francisco do Depósito Araguaia, Olivandro Araújo (da Tractorbel e da Estância da Cachoeira), Jairo Azevedo e Márcio Drumond (do Grupo Seculus), Norberto Giovannini (da Pousada Vista da Serra), entre outros, foram os grandes idealizadores e realizadores. Seu trabalho árduo e generosidade deixaram um legado que não só conecta, mas transforma vidas.
Um portal para o paraíso
Para os antigos moradores, como eu, a portaria do Parque é como um portal mágico que nos remete ao mítico Shangri-La, o paraíso descrito no filme Horizonte Perdido (1937), de Frank Capra. A Serra do Rola Moça pacifica a alma, deixando para trás a agressividade e a impaciência dos centros urbanos. Rejuvenesce o espírito, proporcionando uma conexão única com a natureza e, em muitos momentos, com Deus.
A beleza que desafia descrições
Ao percorrer a Serra a vista é deslumbrante a qualquer hora do dia ou da noite. Fotografar um pôr do sol ali e pintar essa imagem fielmente resultaria em descrença; muitos poderiam pensar que a pintura foi inspirada por alucinógenos. Essa é a força da paisagem, que convida, como diz meu amigo Marcelo Savassi, à “contemplação da gratidão”.
Infelizmente, muitos passam pela Serra sem perceber sua grandiosidade. A rotina e as preocupações do dia a dia fazem com que alguns ignorem a natureza ou a paisagem. Os moradores se esquecem do que os levou a escolher Casa Branca como lar ou que os visitantes fiquem presos ao asfalto, olhando para as curvas da estrada, perdendo a mágica do lugar, perdendo a percepção de ir longe no horizonte.
Mas o olhar atento revela que o principal atrativo da Serra é o turismo de contemplação. Em seguida, vem o turismo de fotografia. Os mirantes – Morro dos Veados, Jatobá, Planetas e Três Pedras – são cenários para sessões fotográficas de noivas.
Chegamos a registrar até seis noivas em um único dia, criando um belo paradoxo entre a lenda da moça (noiva) que sucumbiu ao rolar a serra e as noivas que eternizam seus momentos nesse cenário mágico.
Um patrimônio natural e cultural
O Parque Estadual da Serra do Rola Moça, criado em 27 de setembro de 1994, abrange uma área de 3.941 hectares entre os municípios de Nova Lima, Belo Horizonte, Brumadinho e Ibirité.
Ele é uma unidade de conservação de proteção integral, dedicada à preservação de seis mananciais hídricos – Rola-Moça, Taboões, Bálsamo, Catarina, Barreiro e Mutuca – que abastecem cerca de 40% da população da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Além disso, a Serra abriga biomas únicos de Cerrado, Mata Atlântica e campos rupestres ferruginosos. Um marco da biodiversidade local é o reaparecimento da borboleta Parides burchellanus, extinta por 40 anos e redescoberta nas águas dos ribeirões Catarina e Casa Branca. Hoje, ela é símbolo de Casa Branca, representando o ambiente harmônico e as águas limpas que possibilitaram seu renascimento.
Desafios e proteção da Serra
Apesar de toda sua beleza e importância, a Serra enfrenta ameaças constantes, como incêndios criminosos e atividades mineradoras irregulares. Caminhões acima de três eixos insistem em desrespeitar a legislação Federal de Proteção da Unidade de Conservação Integral e ainda comprometendo a estrada.
Grupos da sociedade civil têm se mobilizado para combater essas práticas predatórias e garantir que a Serra permaneça intacta para as gerações futuras.
A Serra do Rola Moça nos oferece não apenas uma paisagem de tirar o fôlego, mas também reflexões profundas e histórias que merecem ser contadas e preservadas.
* Tunico Caldeira é publicitário, gestor cultural, professor e artista plástico
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