Ossssss!
Na coluna Na Garupa com o Tunico, crônicas sobre estradas, histórias e destinos mineiros. Uma visão pela alma e pelo coração do Tunico, sobre as experiências que se pode sentir sobre duas ou quatro rodas.

A crônica de hoje é uma reflexão sobre o mundo das duas rodas e a necessidade de andarmos juntos. Indivíduos que se encontram e que, por uma afinidade inexplicável, passam a não apenas rodar de moto juntos, mas também programar viagens, eventos, abraçar causas solidárias e até bandeiras sociais.
Isso nos transporta para outros tempos, culturas e grupos que habitam o imaginário coletivo. Cavaleiros Templários (Séculos XII, XIII e XIV), Samurais (Século XVII), tendo aí uma elite de arqueiros montados com precisão incomparável; Cavaleiros Mongóis (Século XIII), famosos por sua destreza sobre os cavalos, e os índios Apaches, que também demonstravam habilidade inigualável nas montarias.
Seguimos pelo Velho Oeste com seus cowboys, pela Polícia Montada do Canadá (fundada no Século XIX) e finalmente chegamos aos motociclistas contemporâneos com seus cavalos de aço.
Os coletes coloridos dos motociclistas nos remetem às armaduras japonesas; os capacetes, aos elmos medievais; as botas e as luvas reforçam esse elo visual e simbólico.
No entanto, diferentemente dos guerreiros ancestrais que buscavam batalhas e vitórias, os motociclistas buscam virtudes, irmandade e propósitos coletivos.
Nos passeios e no dia a dia, suas jornadas se convertem em peregrinações modernas, fortalecendo o espírito de grupo e a consciência do coletivo.
Quantas vezes, na estrada, em um comboio organizado, fluido e sincronizado, você não se sente parte de um desses grupos históricos? Quando o destino é alcançado, os membros estão mais unidos, mais fortes enquanto grupo e indivíduos.
A proteção oferecida ao companheiro ao redor, a liberdade compartilhada por quilômetros e a preocupação genuína com o amigo à frente, ao lado ou atrás refletem o supremo e verdadeiro espírito de irmandade.
A Monja Budista Coen (nascida em 1947), em uma de suas crônicas brilhantes, comparou a meditação Zen à pilotagem de uma motocicleta. O estado de concentração, relaxado e entregue à percepção do entorno, é semelhante ao meditar: um momento de atenção plena ao aqui e agora.
Posto isso como uma abertura, gostaria de fazer uma singela homenagem a amigos que vivem ou frequentam Brumadinho, suas estradas e que também marcam presença constante no Abóbora.
Meus dois irmãos Kung Fu:
1. Mestre Andersom Maia (Moy On Da San), do estilo Ving Tsun, e sua moto carinhosamente chamada de Destino Verde - "Green Destiny" é uma homenagem à lendária espada chinesa do romance literário marcial chinês "Carne Iron", de Wang Du Lu, que deu origem ao famoso filme "O Tigre e o Dragão", do cineasta Ang Lee.
Anderson é o Mestre detentor da preservação do Estilo Ving Tsun da Família Moy Yat em Minas Gerais e um estiloso motociclista em sua Triumph Thruxton 900 ano 2014, estilo "Cafe Racer", movimento de corridas urbanas em Londres nos anos 50 e 60, lindissima.
2. Mestre Willian Nogueira (Moy Wai Lin), também do Ving Tsun, que prefere a segurança das pistas de motovelocidade a enfrentar as estradas repletas de riscos.
Na Pista Pilota sua BMW S1000RR. E nas Estradas da vida Pilota uma Big trail Ducati Multistrada 1200 V4. Ele absorveu muito bem quando nosso Sifu (Mestre) Leo Imamura, conhecido no meio marcial como Moy Yat Sang, substituiu o termo Arte Marcial para Inteligência Marcial.
Outros notáveis no mundo Marcial são:
3.Sansei Daniel Reis, meu vizinho em Casa Branca. Ele é um Sepai do estilo Kenyu-Ryu de Karatê, ou seja o atleta mais velho praticante hoje no Ocidente, faixa preta quarto grau. Iniciou seu treinamento em 1964, Hoje com bem mais de 70 anos trocou a motocicleta pela bicicleta e enfrenta as subidas e descidas do Rola Moça. Um exemplo para todos nós.
Sansei Ricardo Dineli (Tiné), Faixa preta segundo dan do estilo de Karate Wado, praticante desde os 17 anos, Foi campeão mineiro em 1973.
Motociclista desde 1980. Hoje ele desfila nas estradas em uma Yamaha Royal Star 1300 cc e para as aventuras tem uma Varadero Honda 1000 cc.
Sua Primeira moto foi uma Honda CB 400. Que hoje é Clássica e cobiçada por muitos. Hoje aos 72 anos dá aulas terças e quintas no aglomerado Santa Maria para alunos carentes na Escola Municipal Mestre Paranhos como voluntário.
Esses são apenas alguns exemplos. Tenho certeza de que, após publicação deste texto, muitos outros praticantes de Inteligência Marcial que já convivem conosco se revelarão.
No passado, essas conexões seriam conhecidas como O Círculo Marcial Chinês. Podemos associalo ao ambiente cultural e filosófico que deu origem a práticas de artes marciais durante o período dos Estados Combatentes (475–221 a.C.)
Hoje, no Século XXI, essas relações culturais e marciais se renovam, estreitando laços pessoais e interpessoais. Homens e mulheres que são expoentes em suas artes exploram as estradas como os guerreiros de outrora.
A diferença é que todo o treinamento, disciplina e autoconhecimento adquiridos ao longo de anos são compartilhados no que chamamos de “Vida Kung Fu”, o desenvolvimento de suas habilidades para a vida real e não apenas para os combates simbólicos em áreas de treinamento ou competições.
Nas estradas, esses valores se traduzem em respeito, amor, segurança e irmandade, independentes do estilo, tempo de prática, marca da moto, cilindrada ou cor da Bike.
拱手礼 (Gǒng Shǒu Lǐ) - Ossss!
Significados
拱手礼 (Gǒng Shǒu Lǐ): É a saudação tradicional do kung fu, onde as mãos são unidas em frente ao peito (uma mão aberta e outra fechada). Representa respeito e paz, sendo usada tanto no início quanto no fim de uma prática ou saudação entre mestres e alunos.
加油 (Jiā Yóu): Embora não seja específico para artes marciais, significa "vamos lá!" ou "continue firme!", carregando o espírito de incentivo e perseverança, semelhante ao "Oss" em um contexto de motivação.
抱拳 (Bào Quán): Literalmente "abraçar o punho", também é uma forma de saudação que demonstra humildade e respeito no kung fu e outras artes marciais chinesas.
Essas expressões refletem valores fundamentais das artes marciais chinesas, como disciplina, respeito e dedicação, que se assemelham aos significados mais amplos do "Oss" no Japão”.
* Tunico Caldeira é publicitário, gestor cultural, professor e artista plástico
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